O empreendedorismo das profundezas do Brasil

Em minha pesquisa de pós-doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul realizada entre os anos de 2017 e 2018, tive a intenção de investigar os Microempreendedores Individuais do Rio Grande do Sul e de Sergipe a partir de uma pesquisa qualitativa com inspiração etnográfica, mais especificamente os indivíduos que residiam no interior dos dois estados, então tive a oportunidade de conviver com mais de cinquenta jovens, perguntar o conceito de empreendedorismo e mais do que isso, de entender o que é ser empreendedor para jovens que moram longe das capitais. 

No geral, o ato de empreender para esses jovens, antes de tudo é uma atitude de coragem ou de desespero, de coragem quando pensamos no número de microempreendedores com dívidas no Brasil e de desespero, pois empreender para esses jovens é muitas vezes a única alternativa viável para continuarem morando no interior do Brasil. Muitos se sentiam constrangidos ao afirmar que na verdade nunca pensaram muito na questão e que nem mesmo se consideram empreendedores, outros tinham dificuldade de explicar o que era empreendedorismo, mas achavam que empreendedor é aquele que cuida do seu próprio destino e um número reduzido de investigados, afirmou que empreender é uma forma de auxiliar no crescimento das suas cidades. 

Em relação ao crescimento das cidades, em nossa pesquisa com inspiração etnográfica, entrevistamos mais de cinquenta atores fundamentais para o desenvolvimento econômico e social das cidades, tais como: Prefeitos, vice-prefeitos, secretários municipais, diretores de associações comerciais, universidades e de entidades que fomentam o empreendedorismo no Rio Grande do Sul e em Sergipe. O resultado, foi bem desanimador, em geral todos reconhecem que não existe um planejamento mais eficiente para o desenvolvimento do empreendedorismo nas pequenas cidades do Brasil e naturalmente os jovens acabam migrando para cidades maiores e vivem de maneira precária com salários abaixo da realidade de mercado, por outro lado afirmam que os parcos recursos públicos não são suficientes para auxiliar os jovens empreendedores e que ficam presos a burocracia da esfera pública brasileira. 

O empreendedorismo dos jovens em pequenas cidades, poderia ser uma alternativa fundamental para o desenvolvimento do interior brasileiro, mas ficou constatada em nossa observação, que embora algumas ações isoladas sejam realizadas, no geral empreender nas profundezas do Brasil é mais um ato de desespero, do que de coragem. 

Matheus Felizola

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